No ano passado, e após quase vinte anos sem andar de bicicleta, tomei a decisão de comprar uma e voltar a dar uns passeios. Após tanto tempo, foi com grande satisfação que percebi que nunca desaprendemos a andar de bicicleta e de repente senti-me de volta à adolescência. Dei uma ou duas pequenas quedas (sobretudo por falta de cuidado) e voltei a desenrascar-me com mudanças, subidas e trilhos de areia.
No entanto, nunca consegui olhar para ela como um verdadeiro meio de transporte, mas apenas como uma forma de diversão em pequenos passeios de fim-de-semana. E é aqui que a mentalidade de um povo se faz sentir. Há uns anos durante umas férias na Holanda, percebi que a bicicleta podia ser uma alternativa viável aos carros. No entanto, nós enquanto povo não temos a cultura da bicicleta. Nunca há ciclovias suficientes, ou está demasiado frio ou demasiado calor, Lisboa é uma cidade de colinas.
No início do mês a ARAL decidiu fazer um passeio de bicicleta para celebrar a Semana Europeia da Mobilidade, e eu fiquei entusiasmada com a ideia. Passei a semana a dizer em casa que no próximo sábado de manhã iríamos andar de bicicleta, pela Alta de Lisboa. E o homem lá de casa aderiu bastante à ideia.
No entanto, naquele sábado de manhã, acordei com aquele comodismo que é habitual a nós portugueses. A vontade de passar a manhã de pijama, a preguiçar em frente da televisão já se sobrepunha à ideia do Passeio de Bicicleta. Felizmente, o homem lá de casa, fez-me levantar, sair de casa, e lá fomos até ao Parque Oeste para um passeio. E ainda bem!
Foi uma manhã solarenga, em que deu para andar bastante de bicicleta, conhecer a famosa avenida sem princípio nem fim (aka, Avenida Santos e Castro), e sentir aquela brisa fresca no rosto.
No entanto, não houve muitas pessoas a aderir ao Passeio. Acredito, que tenha havido bastantes mais a pensar em ir, mas depois, por preguiça, comodismo, ou pelas tradicionais desculpas de frio ou calor, acabam por perder uma manhã bem passada em que temos oportunidade de conviver e conhecer a vizinhança.
Na segunda-feira seguinte, peguei no carro de manhã, para ir trabalhar. Para variar, a rua por trás do aeroporto estava toda engarrafada. E de repente, vejo pela berma um rapaz a ir de bicicleta para o emprego. Mesmo sem um motor, o rapaz ultrapassou toda a fila e rapidamente o deixei de ver. E dei comigo a pensar na inteligência das nossas decisões. Ali estava eu (e outras centenas de pessoas), parada no transito, a gastar tempo e combustível. E ali estava também uma outra pessoa, que não se acomodou ao carro, e optou por uma solução, mais rápida, mais económica e mais saudável. No fundo, dei comigo a pensar que a primeira coisa a alterar é a nossa mentalidade, o nosso comodismo, para podermos ter uma vida mais saudável e apreciar a nossa cidade.